sábado, setembro 30, 2006

Parece que a vida não lhes foi dada por Deus!

Almoçava com um colega. Veio e sentou-se ao nosso lado. Emagrecido. Tom de pele pálido. Já há muito que não o víamos. Nem queiram saber da minha vida, disse. Andei três meses num desalinho. Então? Perguntámos em coro. Foi a minha neta. Um problema grave. Os médicos não conseguiam. Na primeira semana ficou no hospital. Umas vezes diziam que estava a recuperar. Outras que nada. Outras nem sabiam dizer o que fosse. Experimentaram de tudo. Imaginava a menina como um daqueles animais de experiências científicas e sofri. A caminhar quase todos os dias para lá. A família num pranto. Mas, graças a Deus, Ele levou-a. Foi o melhor, apesar de ser difícil. Já fui a Fátima agradecer de joelhos, em frente a Nossa Senhora. Foi complicado, ia contando. E eu nem sabia que não podia ter missa. Estive para vos ligar. Mas depois o padre xis falou connosco. Não podia ter missa. Não estava baptizada. Não podia entrar na Igreja. Eram as normas. E nem podia pedir-se ou rezar-se pela sua alma. Foi só a enterrar. Eu e meu colega olhámos instintivamente um para o outro. Não rimos porque o caso não estava para tal. Deixámos o amigo na ignorância porque era melhor. Preferível não sofrer mais. Depois, quando se afastou para a sua mesa, conversámos. Estes colegas não conhecem o ritual que prevê exéquias de crianças não baptizadas. Nem conhecem o poder de Deus que quer salvar todos. Isso ensino eu, a partir da Sagrada Escritura, aos meus. Quem somos nós para julgar o que Deus quer e quem quer salvar?! Quem pode ou não ter direito a uma missa?! Quem pode ou não entrar numa Igreja?! Quem pode ou não ter direito a funções exequiais?! Quem pode ou não precisar da nossa oração?! Quem tem ou não tem alma?! Ou o que é ter alma?!
E digo mais. Isto irrita-me. Andamos a lutar para que os fetos a partir de determinadas semanas sejam considerados como pessoas, isto é, seres com corpo e alma, para depois estes colegas impedirem Deus de se abeirar de seres que ainda não foram baptizados, ou impedirem estes de se abeirarem de Deus com o argumento que não têm direito à salvação. Parece até que a vida não lhes foi dada por Deus!

quarta-feira, setembro 27, 2006

É um pai que ama como o Pai ama

Cheguei na hora de jantar. O convite era para comer em família. A porta foi aberta de soslaio. O acolhimento vinha da cozinha muito ruidoso. Não era hábito. Pelo menos o acolhimento assim. O pai, sentado. O filho mais velho em pé. Eram dois, como a história do Filho Pródigo”. Lembrei por causa da discussão e não pelo número. Quero dinheiro para este fim-de-semana. O pai calava-se. Os seus olhos vieram na minha direcção e pediram desculpa. O filho nem olhou. Retorquia. Mas ao mano dás o que ele pede. Gostei da expressão carinhosa de mano, mas não do significado escondido da observação. O referido mano está fora, na Universidade. Tem problemas cardíacos. Mesmo assim os pais concordaram na oportunidade. Ligavam-lhe várias vezes e não desistiam de enviar tudo o que era necessário. O mais velho gastava muito dinheiro nos copos. O pai já mo contara. Por isso era desigual a distribuição dos euros. Não és bom pai, não és justo, terminou o filho, e bateu a porta. Segui-o, discretamente. Entrara no quarto. Queres ouvir-me, perguntei. Padre, não me apetece. O meu pai é injusto para comigo, e se considerar o que faz ao meu irmão... Não frequenta a missa e naquele momento não lhe interessavam valores bíblicos, evangélicos ou morais. Tapara o rosto, a cabeça, tudo, com as mãos e os ombros. Eu sabia que se fechara fisicamente às minhas palavras. Mas também imaginava que, lá no fundo, as iria ouvir. Falei sozinho, mas em voz alta. O bom pai é aquele que trata cada filho como cada um precisa e não quer dizer que tenha de ser de forma igual. A justiça que nós conhecemos pode ser muitas vezes injusta. Achas que se deve dar uma licenciatura a quem estuda como a quem não estuda? Ou a mesma quantia de pão a quem tem muita fome como a quem tem pouca? Ou dar um “benuron” tanto a um doente como a um que está bem de saúde? Dei mais alguns exemplos, penso que sem maçar. Um pai que ama verdadeiramente os seus filhos, ama-os com toda a intensidade, ama-os o mais que pode, mas cada um de sua maneira. Não ama mais uns que outros. Ama-os de maneiras diferentes, consoante o que cada um precisa de si. A verdadeira justiça não é tratar todos por igual, mas dar a todos e cada um o que cada um precisa. Saí, encostando a porta devagar. Sentei-me à mesa com o pai, e antes de abençoar a refeição, disse-lhe: O senhor é um pai que ama como o pai que é Deus ama.

sábado, setembro 23, 2006

O amor é a melhor cabeceira para resolver os problemas

A cara dele não me era estranha. Mas parecia. A cor do sorriso habitual dera lugar ao estranho mundo amarelecido de uma foto. Tinha sido escolhido, sabe-se lá como ou porquê, ou por quem, ou se tinha escolhido o seu coração. Não perguntem. Estas coisas não se explicam. Era um verdadeiro pai, apesar de adoptivo. Sei-o. E levava Jesus a sério, o que o abonava em grande favor, para se dedicar com verdade. O moço tinha sido abandonado ou abandonara-se à vida pelos pais biológicos. Um, porque não dava, e o outro porque sim, porque ele próprio tinha achado melhor. E a única muleta fora o tal substituto. O tal que levava Jesus a sério. Nem vale a pena contar a história porque é muitas e não apenas uma. A asneira tinha sido feita umas semanas antes. O substituto, agora afectivamente verdadeiro, berrara. Esgotara-se a tentar compreender. Soltara o que havia nos olhos para soltar. O jovem, ali, de rosto enrugado, pesado. Eu diria doente, mas não digo. Recordo apenas que combinava com o amarelecido estranho da foto. A escolha era errada. Porém, ele preferia errar mais uma vez. De facto, às vezes não se entendem os jovens. Sabem o caminho da felicidade, mas preferem ser como os outros. E os outros até nem são como eles pensam. Mas é a mania dos outros, a mania desta sociedade que se impõe inconscientemente. Porém, o que conto não tem a ver com este. Tem a ver com o “afectivamente verdadeiro”. Esse que desabafou comigo a confusão. Não posso dizer que fosse confusão espiritual, como ele apresentou. Pois foi dizendo que sabia que não podia fechar a porta. Nem da Casa nem do seu coração. Dois dias a seguir aos berros, haviam conversado novamente, e o “verdadeiro” abria mais uma vez o coração. Como o de Deus. Para ajudar era mais fácil que o moço não fosse abandonado de novo. Sabia que poderia perder. Mas que valia a pena que o moço não perdesse também. Tudo, desta vez, de certeza. Valia a pena mostrar que o amor verdadeiro continua na ausência, na perda, na forma cristã de ser diferente. O moço continua no erro. Mas levou a certeza de que o “seu pai” ia estar com o coração aberto, se ele precisasse. Este pai chorou ao contar-me mais tarde. Tinha a certeza de que valia a pena sofrer. Assim amou Jesus na cruz, dizia. Na confusão interior, nascera a certeza de que o amor é a melhor cabeceira para resolver os problemas. Era assim que Jesus resolvia.

terça-feira, setembro 19, 2006

sondagem_ "Em que deve apostar, hoje, um padre na sua paróquia?"

Passados que vão dois meses da última sondagem, depois do meu descanso, e 459 votos, chegou a hora de avaliar a sondagem que estava no lado direito, no sidebar. A questão era:
Em que deve apostar, hoje, um padre na sua paróquia?

E os resultados são:
1º- Formação_ 22%
2º- Direcção Espiritual_ 19%
3º- Eucaristia_ 18%
4º- Comunhão paroquial_ 11%
5º- Oração_ 10%
6º- Movimentos e grupos_ 6%
7º- Cidadania_ 5%
8º- Catequese inf-adolesc
_ 5%
9º- Caridade Social
_ 3%
10º- Primeiro Anúncio_ 2%
algumas considerações:
1. Não era novidade para mim a necessidade de FORMAÇÃO. De facto há mais de 20 anos que deveria ser uma preocupação de todos os párocos para que hoje os leigos tivessem maior consciência do seu papel e daquilo que constitui a verdadeira fé. Porém, nos tempos que correm e por causa do número de sacerdotes e das suas ocupações, esse papel deveria ser cumprido com a ajuda dos leigos. No entanto, como estes ainda não têm a formação necessária, está aqui “um molho de brocas”. Que fazer? Aproveitar as homilias?! É um bom princípio, desde que o Evangelho seja pregado.
2. De novo uma conclusão que retirámos noutras sondagens. A vossa segunda opção, a DIRECÇÃO ESPIRITUAL, clarifica a importância que cada vez mais os sacerdotes têm em ouvir, ou dito de outra forma: as pessoas têm necessidade de serem ouvidas.
3. A EUCARISTIA é o centro da vida dos cristãos. Se ela não for autêntica ficamos coxos. Mas será que hoje as eucaristias conduzem e alimentam a vida dos cristãos?!
4.
Entendo como COMUNHÃO PAROQUIAL todo o esforço em fazer da comunidade cristã uma comunidade como nos princípios do cristianismo, em que a cabeça é Cristo é o corpo somos nós, uma comunidade de amor. Mas com os conflitos inerentes a uma estrutura organizada, e com uma sociedade cada vez mais individualista, como conseguir que toda a gente se ame?!
5. Engraçado como nem eu saberia em que escala da sondagem colocar a ORAÇÃO. Ela é essencial na vida de cada um e na vida da comunidade, mas sabemos que ficar a olhar para o céu sem os pés assentes na terra não chega para se ser verdadeiro cristão! Encontrar esta escolha no meio da tabela deixa-me descansado.
6. Aqui há uns anos ouvi um sacerdote falar da importância dos MOVIMENTOS numa comunidade porque eles possuem já percursos que ajudam tanto os seus membros como a comunidade. Caminham por si. Porém, às vezes também se fecham em guetos e ficam virados para si, impedindo aquilo que se pretenderia de uma verdadeira comunidade de cristãos.
7.
Fiquei um pouco preocupado pelo facto de se ter deixado para um segundo plano, muito segundo, a CATEQUESE DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA, porque a julgo um pouco o coração da paróquia. Mais me preocupei pelo facto de estar em pé de igualdade com a CIDADANIA, algo que escolheria em último porque vejo esta opção quase como uma questão política, e, apesar de os cristãos terem obrigações de cidadania, julgo que o mais importante é descobrirem a fé e o sentido das suas vidas na paróquia. Encontro uma razão para esta opção da Catequese pelo facto de ela precisar de uma grande renovação, sobretudo em Portugal. Estarão os catecismos a corresponder às necessidades?!
8. A CARIDADE SOCIAL é uma constante em cada paróquia. Já existe em abundância e é verdade que podem haver outras instituições preocupadas com ela. Mas não podemos esquecer a preferência de Jesus pelos pobres e marginalizados. É uma forma de viver o Evangelho na vida.
9. Engraçado como acho que hoje, apesar de não ser o seu papel, as paróquias e os párocos deviam preocupar-se mais com os afastados da Igreja, com o PRIMEIRO ANÚNCIO. A vossa escolha, se calhar, deveu-se ao facto de nem sequer ainda termos os ditos católicos com a formação necessária!
10. Não sei bem que conclusão podemos tirar do facto de esta ter sido a 1ª sondagem do confessionário com resultados mais equilibrados, mas eu vou reflectir e rever, à luz delas, os objectivos pastorais deste ano para as minhas paróquias. Valeu.
Hoje surge nova sondagem. Num início de ano e verificando cada vez mais a necessidade de novas vocações sacerdotais, a pergunta é essa:
Quais as razões que impedem o aumento das vocações sacerdotais?